Reflexões sobre a enfermagem e a polÃtica de transplantes de órgãos
Michel Vieira Araújo*
O transplante é um procedimento de alta complexidade e exige capacitação adequada e atualizações periódicas dos recursos humanos dedicados a essa atividade. Todas as etapas envolvidas necessitam ser bem executadas e articuladas entre si, desde o momento em que se confirma o diagnóstico de morte encefálica, até o implante do órgão no receptor, sendo que todo o processo deve ser desenvolvido em poucas horas (VILAÇA ;2006).
A perda de uma pessoa com quem se tem laço afetivo é um momento desgastante, uma experiência marcante e por vezes, alcança nÃveis elevados de estresse. Verifica-se que os profissionais de enfermagem são o elo entr’’e a famÃlia e a instituição hospitalar. São, além disso, os profissionais que mais tempo passam junto ao leito do paciente, neste caso, potencial doador e seus familiares. Esta proximidade muitas vezes faz com que a famÃlia sinta-se mais a vontade para solicitar informações e esclarecer dúvidas.
A equipe de saúde, e em especial o enfermeiro da Organização de Procura de Órgão (OPO), deve saber que a satisfação da assistência prestada durante a internação, o esclarecimento de dúvidas que surgem quanto à Morte Encefálica e a liberação do corpo são fatores imprescindÃveis, devendo oferecer suporte e esclarecimentos para diminuir a dor e o sofrimento da famÃlia do doador (CINQUE; 2010).
Verifica-se que há uma carência de material e pesquisa que relate doação de órgão e enfermagem, sendo a resolução do COFEN 294/2004 tomada como base legal norteadora da atuação profissional nessa área de trabalho. Verifica-se que com a legislação vigente sobre doação de órgão, a OPO e a Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante – CIHDOTT – são campos de atuação de Enfermeiros que podem, inclusive, virem a ser Coordenador de CIHDOTT.
A assistência de enfermagem prestada ao doador de órgãos tem como objetivo a viabilização dos órgãos para transplante, bem como a necessidade de permanência do doador em unidade de terapia intensiva, até a retirada dos órgãos, sendo que a assistência de enfermagem deve atender à s necessidades fisiológicas básicas do potencial doador, dentre todos os cuidados. Cabe ainda ao enfermeiro a incumbência de aplicar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) em todas as fases do processo de doação e transplante de órgãos e tecidos, ao receptor e famÃlia, que inclui o acompanhamento pós-transplante (no nÃvel ambulatorial) e transplante (intra-hospitalar) (Resolução COFEN 292/2004).
Nota-se que na estrutura da OPO as atividades estão centradas na atuação do enfermeiro, o qual concretiza a doação por meio de um trabalho de elevado nÃvel de qualidade e de ética. Contudo não basta que esse profissional tenha o domÃnio técnico cientifico da questão, são necessários outros quesitos, dentre os quais caracterÃsticas pessoais, como empatia, sensibilidade, disponibilidade de compreender sentimentos alheios e facilidade de adaptar-se a situações novas e contextos diferentes (PERNAMBUCO, S/D).
Verifica-se que o enfermeiro que faz parte da OPO realiza visita diária aos locais de maior possibilidade de encontrar possÃveis doadores (unidade de terapia intensiva e de recuperação pós-anestésica, além de prontos socorros), como também aguarda a notificação sobre possÃveis doadores, sendo que uma vez identificados ou notificados, inicia-se o processo de entrevista familiar e de captação (CINQUE; 2008).
Em relação à abordagem familiar, o enfermeiro deve apresentar, além do conhecimento cientÃfico referente ao quadro clÃnico, um preparo emocional que lhe permita lidar com as diferentes reações dos familiares diante da perda, de modo que estes compreendam a morte encefálica e aceitem a doação de órgãos como um ato humanitário (GIOVANI, SANTOS & CROCI, 2000).
Em relação à atuação do enfermeiro no programa de transplantes, pode-se destacar dois tipos de atuação de enfermagem: o enfermeiro clÃnico e o coordenador de transplante. O primeiro é responsável por promover os cuidados de enfermagem a candidatos e receptores, aos doadores de órgãos vivos e falecidos e seus familiares ou cuidadores. O enfermeiro coordenador de transplante tem a função de gerenciar o programa de transplante, coordenando as diversas etapas que compõem o perÃodo perioperatório a longo prazo, além de promover o cuidado a candidatos e receptores quando necessário (ROZA; 2012).
Percebe-se que frente à realidade da saúde publica no Brasil é importante que a enfermagem esteja atenta à sua prática profissional, pois falar de doação de órgão é ter uma atuação que contemple planejar, executar, coordenar e supervisionar os procedimentos de enfermagem prestados aos doadores de órgãos e tecidos (COFEN, 2004). A entrada do profissional de enfermagem como membro da OPO permitiu um ganho muito grande ao programa, visto que o enfermeiro é um profissional capacitado para atuar neste contexto e é um dos responsáveis pela entrevista à famÃlia.
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*Enfermeiro, com especializacao em Metodologia do Ensino e Extensão em Educação pel Uneb
Especializando em Saúde coletiva pela FTC
Atuando na Sesab, na Coordenação de Transplantes (Diretoria de Atenção Especializada)
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