Os desafios da equipe de enfermagem no serviço de imunização
O Coren-BA esteve na Unidade de Saúde da Família Menino Joel, situada no bairro Nordeste de Amaralina em Salvador.
03.06.2019
O Coren-BA esteve na Unidade de Saúde da Família Menino Joel, situada no bairro Nordeste de Amaralina em Salvador, para entender como é o dia a dia da equipe de enfermagem responsável pela sala de vacina.
As dificuldades foram percebidas logo quando chegamos à USF onde uma fila enorme de usuários do Sistema Único de Saúde se estendia além da porta de entrada da unidade. A USF é relativamente nova, foi inaugura em julho de 2017 e, de acordo com Ascom da Secretaria Municipal, foram investidos cerca de R$ 1,3 milhão para sua implantação.
A equipe de Enfermagem da USF é composta por 5 técnicas(os) de enfermagem e três enfermeiras responsáveis por todo o atendimento assistencial como aplicação de vacinas, curativos, aferição de pressão e glicemia.
A enfermeira Itana Oliveira nos recebeu em uma das salas disponíveis para a entrevista. Percebemos que ela usava um notebook para a realização das tarefas. Ao ser questionada sobre o equipamento, ela informou que trazia o computador pessoal para o trabalho, pois só existiam apenas dois computadores para toda a unidade.
“Nós usamos sistema para registro das informações, se não trouxer o meu notebook, preciso esperar algum computador estar vago para poder fazer o serviço, não daria tempo para a quantidade de demandas que preciso cumprir”, revelou.
Segundo dados da força tarefa de fiscalização realizada pelo Coren-BA, no ano de 2018 em 12 USF de Salvador, ficou constatado que a(o) enfermeira(o) que atua no programa de saúde da família, além de ser responsável pela supervisão da sala de vacina, realiza assistência integral aos indivíduos e famílias dentro da sua área de abrangência e realiza todas as demais atividades inerentes ao cargo.
O relatório apontou ainda a inviabilidade da(o) enfermeira(o) que atua na equipe de saúde da família, realizar efetivamente a supervisão na sala de vacina, ficando a sua atuação, muitas vezes, restrita apenas na elaboração e encaminhamento de consolidados.
Diante da análise desse contexto, encontramos a mesma situação apontada na visita à enfermeira Itana Oliveira que informou ser responsável pelos Programas de Imunização, Saúde do Adolescente e Controle da Hanseníase, além das atividades gerenciais e de supervisão da sala de vacina.
Para a enfermeira, é impossível dar exclusividade de supervisão para a sala de vacinas, que atualmente são compostas por duas técnicas de enfermagem. “Faço o atendimento de todos os grupos (mulher, criança, adolescente, idoso), visitas domiciliares, acompanhamento de gestante por isso não consigo ficar muito tempo no ambiente de imunização”, comentou.
Essa realidade já havia sido percebida por Itana Oliveira durante as pesquisas para o seu mestrado em Enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Ao longo dos anos em que produziu a dissertação “Produção do cuidado da equipe de enfermagem nos serviços de imunização na Atenção à Saúde da Família”, ela comprovou através da análise do processo de Enfermagem em 10 USF da Bahia e por meio de referenciais teóricos que existe um distanciamento da(o) enfermeira(o) da sala de vacinas.
“O principal motivo que detectei na minha pesquisa sobre esse distanciamento estava relacionado ao excesso de atividades burocráticas de outros setores, sobrecarga de atendimento de consulta e o conhecimento superficial em relação às boas práticas de imunização”, comentou Itana.
De acordo com a dissertação da enfermeira, o acolhimento, vínculo, diálogo, escuta, comunicação, compromisso, responsabilidade e orientação devem compor todo o processo da produção do cuidado, a partir de alguns questionamentos: qual a história daquele sujeito a ser imunizado? Existe alguma contraindicação para com algum imunobiológico? O sujeito compreende a importância e objetivo da vacinação? Quais os benefícios envolvidos na vacina? Quais os riscos apresentáveis na vacinação? Quais os principais eventos, como proceder e atuar diante deles? O que fazer nas próximas horas após a vacinação? Qual a importância de voltar à Unidade de Saúde no aprazamento correto?
Esses questionamentos deveriam compor as atividades da enfermeira responsável pela sala de vacinação. Segundo, Itana Oliveira o processo de educação da população seria muito mais eficiente se a profissional pudesse ficar exclusivamente neste ambiente, explicando para os pacientes sobre os eventos adversos, a importância da aplicação de todas as doses e o esclarecimento sobre a própria vacina que está sendo injetada.
Mas, como ficou comprovado durante a visita a USF Menino Joel, não há tempo para que a profissional fique exclusivamente no ambiente de imunização e que a cada paciente seja adotado esse tipo de orientação, análise e investigação.
“É um sonho ter uma enfermeira exclusiva para a sala de vacinas junto com a equipe técnica, às vezes temos uma fila de crianças aguardando serem imunizadas, mas não basta apenas vacinar, é preciso imunizar, fazer a orientação dos eventos adversos, o registro da vacina, explicar a importância, sensibilizar os pais e combater as fake news”, explicou Itana Oliveira.
Rotina – A enfermeira contou que a sua rotina começa com a análise de relatórios e a entrega desses a gestão da unidade. Depois, ela comparece a sala de vacinas pela manhã para verificar como está a higiene do local, se tem material suficiente. Salvar os dados do controle de temperatura da Câmara Técnica referente à noite anterior também é uma tarefa que está sob a sua responsabilidade. No entanto, a maior parte das tarefas é delegada às técnicas de enfermagem que são orientadas a sinalizar a enfermeira quando qualquer tipo de eventualidade acontece.
“Nos casos de acidentes com animais, por exemplo, a gente faz a notificação e vacina o paciente, mas também é preciso fazer uma avaliação para ver a necessidade de aplicação do soro antirrábico, por isso nestas situações eu ajudo e acompanho todo o processo”, comentou Itana Oliveira.
A enfermeira revelou que os verdadeiros protagonistas da sala de vacina são os técnicos de enfermagem que estão presentes todos os dias neste setor, fazendo a avaliação dos materiais necessários, aplicando as vacinas e conduzindo as tarefas da sala. Itana Oliveira salientou que não há como uma sala de vacinação funcionar sem a presença de pelo menos dois técnicos de enfermagem. Enquanto um realiza a aplicação, o outro faz o registro das informações no sistema.
“Temos o cuidado de deixar as duas técnicas de enfermagem exclusivas para a sala de vacinas, elas não podem, por exemplo, abandonar o setor para fazer um curativo, isso não é possível”, destacou a enfermeira.
Resistência – A enfermeira contou também que existe uma resistência por alguns profissionais em atuar na sala de vacina em função do monitoramente constante das condições de armazenamento dos imunobiológicos e das diversas atualizações que ocorrem no setor.
“A todo o momento passamos por atualizações sobre novas vacinas, mudança no calendário de vacinação, novos equipamentos, por exemplo, antes usávamos uma geladeira com termostato para conservar os materiais, hoje temos a câmara técnica automatizada que sinaliza quando a temperatura está acima ou abaixo do ideal, tudo isso faz parte do trabalho da Enfermagem”, comentou Itana.
Itana Oliveira ressalta que mesmo não ficando na sala de vacinação como gostaria, entende como de fundamental importância a participação da enfermeira neste ambiente, principalmente no contexto atual de retorno das doenças imunopreviníveis, como o sarampo que teve um aumento de 300% no número de casos em todo o mundo, segundo dados da OMS. Segundo a enfermeira, é necessário repensar as estratégias adotadas, em geral, para o alcance das populações alvo, enfocando ainda a supervisão, o monitoramento e a avaliação, com destaques aos aspectos relacionados à avaliação da cobertura de vacinação, homogeneidade, taxa de abandono, transporte, condicionamento, armazenamento e administração das vacinas.
Campanha – Ministério da Saúde mobilizou o Brasil para a Campanha de Vacinação contra a Gripe, destinada a vacinar exclusivamente o público prioritário, entre eles, idosos, crianças, gestantes, profissionais de saúde e professores. Essa ação terminou na sexta-feira (31/05), mas a partir desta segunda-feira (03/05), as doses restantes ficarão disponíveis para a população em geral, inclusive para as pessoas dos grupos prioritários que ainda não se vacinaram.